sábado, dezembro 15, 2007

061 - 15/12/2007 - E foi assim...

E foi assim
eu entrei naquele hotel pela primeira vez com medo de tudo
Com medo de dar errado e até mesmo
medo de dar certo
Inseguro
Rindo de mim mesmo
Para tentar fazer
tudo parecer
um pouco mais normal
Sair do país
e deixar a família
a esposa e os filhos
os pais e os irmãos
os amigos
parentes
a padaria e a farmácia
a rua e a esquina
para se aventurar no desconhecido
Foi preciso coragem
e muito mais do que isso
Foi preciso conseguir dizer todo o tempo
Que tudo estava bem
Porque se alguém deposita todas as suas esperanças em você
Você tem sempre que dizer
que está tudo bem
Para que o outro não perca a fé
E continue acreditando
E consiga te ajudar
na hora em que você acha que não vai mais conseguir

quarta-feira, outubro 17, 2007

060 - 17/10/2007 - Primeira ida a Viena

Acordamos às 5 horas da manhã para ir a Viena. E considerando que estamos quase no inverno e o sol demora mais para nascer, acordamos praticamente no meio da noite. Frio, 8 graus, e muito frio. Muito muito frio.
Levantei junto com a Cláudia, depois o Diego e por fim Gabriel e Davi.
Por uma dessas coisas inexplicáveis do destino, conseguimos chegar no horário certo na estação, o que é muito interessante, já que nunca chegamos na hora quando o assunto é o nosso próprio lazer.
Entramos no trem, ele não apitou, e então partiu.
Viagem tranquila, o único barulho era o nosso, todos rindo e brincando.
Bom mesmo, de verdade.
Fotos, coca-cola congelada, polícia da fronteira.
Pronto, chegamos em Viena, Áustria.
Fotos, casacos fechados, começamos a caminhar. Para onde estávamos ainda não sabíamos. Tínhamos combinado um encontro com o Rodrigo e a Gislene, um casal de brasileiros que está no nosso hotel, mais o filho deles, o Miguel.
Então andamos em linha reta, seguindo o fluxo que parecia ir em direção à saída da estação.
Lá fora avistamos a primeira igreja pela ponta da torre mais alta.
É pra lá mesmo, e viramos para a esquerda tentando alcançar a faixa de pedestres.
"Mau sinal, a calçada está em obras e não tem como atravessar. Vamos seguir mais um pouco."
A rua virou mais para a esquerda e começamos a nos afastar cada vez mais da igreja. A gente só queria seguir reto mas aquilo parecia cada vez mais difícil. A Claudia pegou o celular e ligou para a Gislene que estava fora de Viena. Conversou, ficou sabendo que ela ainda não estava na cidade, e desligou.
'Eu te ligo de novo' seriam as últimas palavras que a Cláudia diria a ela naquele dia.
Voltamos para a estação para tentar atravessar a rua.
Eis que surge o sol.
Não o sol normal, mas aquele soléuzaláço, aquele fogaréu colossal que obrigou a gente a voltar na estação mais uma vez para guardar os casacos no maleiro.
"Me dá uma moeda de 2 euros para trancar o maleiro?". "Ixi, não tem, tem que trocar a nota.".
"Ok!"
Comprei um pacote de batatas chips e um gatorade por algo equivalente a 20 reais e consegui o troco.
Pronto. Casaco trancado e seguimos para a saída.
Para ir à igreja, ainda estávamos tentando ir para a igreja, era só atravessar a rua no sinal logo em frente à porta da estação. Nada de andar para à esquerda, só atravessar a rua em frente.
Chegamos até ela e finalmente conhecemos o local.
Fotos e saímos. Rápido.
E agora? "Liga para a Gislene."
Novamente, por uma outra dessas coisas inexplicáveis do destino, o telefone parou de ligar. Ou melhor, parou de ligar pra ela. Ligava para qualquer pessoa, menos para a Gislene.
Ligava para a Lituânia, mas nao pra ela. "vamos passear a pé mesmo.".
Mas faltava o mapa...
"Liga para o Demis que ele sabe o caminho todo."
OK. E o Demis explicou o caminho todo.
"Obrigado Demis."
Havíamos combinado um passeio junto com o Rodrigo, que estava de carro, então não me preocupei com mapas e endereços dos pontos turísticos. Pensei que seria tudo simples. De carro tudo é simples. Em relação a estar a pé e sem mapa, de carro tudo é simples.
"Vamos a pé mesmo, já sei mais ou menos onde é e eu li que é quase tudo na mesma rua e região."
Começa o passeio mas em cinco minutos paramos na pizzaria para repor energias.
"15 reais cada fatia de pizza..."
"Estou acostumado com os preços da Hungria."
"Credo."
"Por favor, uma pizza pequena, sem coca, e cinco pratos."
Em seguida descemos uma rua, seguindo as instruções do Demis, mas nada de chegar.
Andamos mais e nada. Mais ainda e nada. Bem mais ainda e mais nada ainda.
"Vamos comprar um mapa agora! Aqui! Nessa banca!"
Compramos o mapa.
Aproveitei para perguntar: "Onde é a rua Burg Ring?"
"Próxima quadra..."
Por quê é que tem que ser sempre assim?
Mais dois minutos andando e o Davi dorme ao mesmo tempo em que a bota da Cláudia começa a machucar seu calcanhar.
Sentamos em um banquinho na calçada.
Cláudia: "Compra um carrinho."
"Quê?"
"Um carrinho, de bebê, pra gente por o Davi. E um sapato pra mim, pra andar o dia inteiro com essas botas não dá."
"Ok."
Saímos eu e o Gabriel pra ir comprar carrinho, mas não sem antes ter parado um guarda de trânsito para fazer a pergunta mais inesperada que um guarda de trânsito espera que alguém lhe faça, se é que algum guarda de trânsito fica esperando que alguém lhe faça perguntas: "Oi, por favor, onde eu compro carrinho de bebê?" .
Entramos em um shopping de 7 andares com muitas placas indicativas, todas em alemão.
Começamos pelo primeiro andar e fomos subindo. No quarto andar o Gabriel achou a seção de carrinhos e pronto, tudo resolvido.
Voltamos com o carrinho.
Cláudia: "E o sapato?"
"Merd* de drog* de bost* de sapato... Eu esqueci a merd* do sapato.. Grunff!"
"Gabriel, bora comprar o sapato?"
Fomos de novo. Na segunda loja compramos e voltamos. Um número maior que o tamanho dela. Na Europa não existe sapato para adulto do tamanho que ela quer.
Agora sim, exatamente 4 horas depois de termos chegado já estávamos prontos para começar realmente, verdadeiramente, o passeio.
E então, mais uma vez, por mais uma outra dessas outras coisas do tipo coisas inexplicáveis do outro destino, o passeio foi sensacional!
Castelos, museus, fotos, praças, estátuas, fotos, pessoas, lojas chiquetérrérrimas (uma das quais tirei fotinhola com meu óculos comprado na dita cuja), fotos, uma basílica de deixar qualquer um em estado de graça, fotos, carruagens pela rua, valsa na praça, fotos, gente rindo, fotos, pés doendo, gente feliz. Fotos.
Nós alternávamos o carrinho para que o Gabriel e o Davi pudessem descansar pois o passeio era longo. Mas às 5 horas da tarde as pernas do empurrador do carrinho, no caso, eu, pediram trégua. E assim paramos na praça Sigmund Freud para um descanso.
Olhei o mapa para ver como fazia para voltar de metrô até a estação do trem e depois de alguns baldeios chegamos.
Entramos no trem e nao havia nenhuma cabine vazia. Então o Diego entrou em uma qualquer onde já havia uma mulher.
Nos instalamos e bem na hora do trem partir entra o alemão.
Mal-humorado, ranzinza, pulguento e, bom, deixa pra lá.
O tal alemão tirou a mulher da poltrona alegando que aquela era reservada para ele.
A troca de lugares provocou um rearranjo de senta aqui e senta ali de tal forma que no final das contas o Davi ficou no colo do Diego e o carrinho de bebê no meu colo.
E assim o trem partiu. E o inesperado aconteceu.
A fúria titânica que me possuía era demais e crescia a cada vez que olhava o alemão. Meus pensamentos enegreciam.
Com o sangue pressionando as paredes das artérias sentei-me para dar início àquilo que eu chamei de vingança
pessoal contra o nazista mal-humorado, ranzinza, pulguento e bom, deixa pra lá.
Falei durante 3 horas. Ininterruptamente. Nem eu mesmo acreditei. Nem eu aguentei. Não sou de falar tanto. Cantei também. Fui tão irritantemente insuportável que o alemão levantou-se e saiu da cabine. Preferiu ficar em pé no corredor, para meu regalo. Ou deleite. Ou ambos, não importa. Eu estava muito cansado. Mas valeu a pena.
De alma lavada e com final feliz, chegamos.
Cansados e felizes. Com fotos e felizes. Com fotos e com fome. E com muitas fotos. Quatrocentas e sessenta fotos em um único dia. Muitas fotos, já falei isso?

sexta-feira, setembro 07, 2007

Ele tinha os cabelos cacheados, mais ou menos cinco anos, usava uma calça jeans já um pouco gasta nos joelhos. Tênis preto empoeirado, camisa branca de botão, rosto redondinho, daqueles que dão vontade de apertar. Olhava para o chão um pouco à frente de seus próprios pés e parecia que não pensava em nada. Eu olhava para ele com carinho e eu gostava dele.
Observar aquele menino que ficava entretido pegando a areia do chão e jogando de volta me dava uma sensação que há tempos vinha me faltando. Leveza, ou melhor, conforto, ou, melhor ainda, algo mais parecido com o que sentia aquela menina, quando encontrava-se com o fauno no filme "O labirinto do fauno". Alguma coisa como "que bom que você está aqui".
Enquanto eu observava eu via que às vezes ele me olhava e sorria. Um sorriso daqueles que a gente dá para o filho quando vê ele dormindo ou quando quer trocar um carinho à distância, com alguém que a gente gosta. Eu recordei minha infância, lá atrás, longe, quando pegar a areia do chão e jogar de volta era bom, quando não fazer nada e estar ali era bom, quando eu nem sabia que tudo era simples, porque tudo era simples.
Mas agora eu estava ali.
E o ar que estava calmo se agitou.
As veias se inflaram e ficaram visíveis. Os músculos se enrijeceram.
As nuvens fecharam o céu e tudo era frio.
Levantei-me ergui os braços e eu estava forte.
Em pé, já não havia mais criança.
E assim de súbito, e com toda a força desesperada de quem está sem saída, corri.
Contra o vento e contra a chuva, contra a tempestade e contra tudo. O céu era cinza mas não importava. Tudo era pouco e tudo era simples, tudo era fraco e tudo era possível.
Que seja e que venha. Se é inevitável que aconteça logo. E seja breve.
Pois eu ainda quero jogar a areia de volta.
E não vou parar antes de conseguir.

domingo, setembro 02, 2007

059 - 01/09/2007 - O dia que foi tudo na sequência

Outro dia machuquei meu joelho e já nem me lembro como foi. No dia seguinte o Demis me deu um aerosol para dores musculares.
- Como se usa isso?
- Aperta e joga sobre a parte machucada...
- Só isso?
- É. Vai esfriar um pouco, esquentar e aí acaba.
- Valeu.
Em casa troquei de roupa e fiquei imaginando como seria aplicar aquilo. Nunca usei spray assim... Como será? Puxei a bermuda para cima, mirei bem, pressionei o bico e fui borrifando em volta do meu joelho. Fiz um círculo, depois "preenchi" o meio, tendo o cuidado de não deixar nem uma parte sem o remédio. Outra volta, um pouco atrás da perna, dos lados e mais uma camada para encerrar. Pronto.
Cinco minutos se passaram.
Dez minutos.
- Cláudia, o Demis disse que ia gelar, esquentar, uma coisa assim mas até agora nada...
- Você passou direito?
- Acho que sim.
- Bem,...
- Espera... está começando a ficar frio... isso, está ficando frio agora... nossa, como gela...
Quinze minutos mais.
- Cláudia... a perna... o joelho... sabe... tá queimando muito...
- É? E aí?
- Tá queimando mesmo... Nossa... tá ficando insuportável isso... Nossa...
Vinte minutos.
Começo a andar pela sala, desnorteado, mãos na perna, que queimava como gelo na pele, aquela queimação que só o frio bem frio sabe fazer. Cláudia, Diego, Gabriel e Davi, parados, me olhando. Eu ali, a dor aumentando, o joelho vermelho e inchando, eu sentava e levantava, não sabia o que fazer.
Quarenta minutos.
Não resisti e as lágrimas vieram.
Um pouco mais tarde a dor diminuiu.
Cláudia estava na internet, com o Demis, o dono do ácido, argumentando sobre o que poderia ser feito.
- Cláudia, está parando...
No outro dia fico sabendo que deveria ter aplicado somente um único jato sobre o joelho.
Viro piada em casa e no trabalho.
Aquilo que parecia ser uma fogueira sobre minha perna foi esquecido.
O mico não.
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Nove dias depois...
Sábado, em casa eu, Cláudia, Diego, Gabriel e Davi. Homens jogando cartas, mulher na internet, em ritmo alucinante, numa sequência interminável de posts no blog.
Viramos a noite.
Homens jogando.
Mulher numa loucura desatada postando no blog num ritmo frenético desvairado.
Seis horas da manhã paramos tudo. Fim do jogo. Fim dos posts. Cartas guardadas.
O notebook suava e era quase possível ouvir ele dizendo: mulher doida...
Quando estava quase dormindo, ali entre o consciente e a hora em que segredos são revelados, o inesperado aconteceu.
Um mosquito.
Um único mosquito.
Um único maldito e excomungado mosquito.
Parecia que estava no quarto desde o dia anterior. Esperando para dar um rasante bem perto do ouvido assim que deitássemos.
Uma espécie de retaliação, dos amigos dos mosquitos que comi na ilha.
Mandaram o deus dos mosquitos. O melhor.
E então depois de muitas tentativas desisti. Levado pelo cansaço, adotei uma solução radical e um tanto quanto diferente. Levantei-me, fui até o banheiro, enchi a banheira com água morna, vesti uma sunga, entrei, deitei, apoiei a cabeça na borda e fui dormir.
Ahhhhh.... sim, o sono finalmente...
Mas ainda não passava de nove horas quando a Cláudia entrou no banheiro.
- Wander... o mosquito, o maldito e excomungado mosquito...
- Eu sei, vou sair daqui, vamos lá embaixo tomar um café.
Assim, nos apoiando mutuamente, fomos trocar de roupa enquanto reclamávamos sobre o transtorno causado por tão inescrupulosa criatura. Elemento amaldiçoado, repugnante. E sem sentimentos.
Odeio você, mosquito.
Tirei a toalha, vesti uma bermuda e botei a camisa sobre a cama.
Quando terminei de passar o desodorante, e no momento em que esticava o braço para guardá-lo, tive um visão daquilo que me parecia ser o pior dos infernos... horrível.
Torcendo para estar enganado, olhei primeiro para o armário.

Mas eu estava certo.

E numa última tentativa, olhei para minha mão de novo.
E eu realmente estava certo.
- Cláudia...
Eu já começava a sentir os efeitos.
- O spray...
E foi então que ela entendeu que, naquele momento, eu havia aplicado, debaixo dos dois braços, e logo após sair do banho quente, a maior quantidade de spray para dores musculares que um ser humano já usou em toda sua existência.
O aerosol. É, o do joelho.
Corri para o banhheiro, entrei no chuveiro e joguei água, mas era tarde.
Primeiro o calor...
Corri para a cama, deitei com os braços estendidos para cima. Em vão.
Depois o frio...
A Cláudia no chão, deitada, quase morrendo, de tanto rir...
O suor frio...
Eu recordava meu joelho.
A vermelhidão...
Enquanto isso a Cláudia se contorcia, não de dor, mas de tanto rir...
foi quando começou a queimação...
O resto foi apenas dor. Muita dor.
E lágrimas.
...
...
...
Eu ainda teria pensado que o domingo não foi de todo ruim se logo após ter descoberto o signifcado de axilas efervecentes eu não tivesse caído com as costas sobre o braço da cadeira da sala.
"Passa o spray..." foram as palavras do Diego.
...
...
...
Semana que vem, quando eu estiver melhor, farei uma fogueira na ilha, bem grande, monumental.
E vou entoar cânticos e bailar em volta do fogo.
E como que em um transe hipnótico vou chorar de felicidade enquanto me despeço e atiro sobre as chamas: o spray, o mosquito, o Diego.

quinta-feira, agosto 09, 2007

quinta-feira, agosto 02, 2007

quarta-feira, agosto 01, 2007

058 - 01/08/2007 - História da balinha

Essa é a história da balinha com cara de menina.
Eu desci, após o almoço, e saí do hotel.
Antes de sair, na recepção, fui até o pote de balinhas e peguei algumas para levar comigo.
No caminho abri a primeira e coloquei na boca.
Boa, pensei.
Então cheguei no ponto do tran. Não do trem, nem do metrô, do tran. Uma espécie de trem e metrô, mas não vem ao caso. Eu tinha acabado de perder o tran e aguardava o próximo quando peguei no bolso a segunda bala. Não era como a primeira, que era uma balinha normal, era uma bala diferentona. Sim, porque ela era redonda como uma moeda e tinha o desenho do rosto de uma menina nela. Sabe como é, balinha com cara de menina.
Então, abri a balinha e mordi o olho da menina.
Não pude controlar meus pensamentos e a coisa desandou de vez.
Tomado pelo estado eufórico baseado na idéia ridícula de estar mordendo o pobre olho da menina eu pensei: hummm, que olho bom!
Fiquei rindo sozinho, como esses doidos que ficam rindo sozinho.
E então o tran chegou.
Acabei de morder a cabeça da menina e fui embora.
Agora a bala acabou.
Que pena. Era boa.

terça-feira, julho 31, 2007

057 - 31/07/2007 - Quem manda

Segundo o comentário daquela que manda, meu post anterior está parecendo uma sequência interminável de agressões descabidas e desnecessárias. Chamou-me de rude e ordenou a imediata retratação. E visto que os fracos, enquanto indivíduos que zelam pela própria integridade, obedecem, deixo então um novo texto, não meu, mas que é muito bacana, apesar de incompreensível. Ou não. Pra vocês, a galinha.

De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.
Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.
Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio.
O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez.
Ao ovo dedico a nação chinesa.
O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou. Foi uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei. Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por ovos.
O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome.
O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu.
O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o assunto.
Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo.
Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir.
E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido.
É necessário que a galinha não saiba que tem um ovo. Senão ela se salvaria como galinha, o que também não é garantido, mas perderia o ovo. Então ela não sabe. Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia parte de nascer. Gostar de estar vivo dói. – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo o seu devaneio. A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido é o ovo. – Ela não sabe se explicar: “ sei que o erro está em mim mesma”, ela chama de erro a vida, “não sei mais o que sinto”, etc.
“Etc., etc., etc.,” é o que cacareja o dia inteiro a galinha. A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de “galinha”. A vida interior na galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro de galinha é como sangue.
A galinha olha o horizonte. Como se da linha do horizonte é que viesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender se ela é a contradição de um ovo? O ovo ainda é o mesmo que se originou na Macedônia. A galinha é sempre tragédia mais moderna. Está sempre inutilmente a par. E continua sendo redesenhada. Ainda não se achou a forma mais adequada para uma galinha. Enquanto meu vizinho atende ao telefone ele redesenha com lápis distraído a galinha. Mas para a galinha não há jeito: está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela, e sendo o seu destino o ovo, a sua vida pessoal não nos interessa.
Dentro de si a galinha não reconhece o ovo, mas fora de si também não o reconhece. Quando a galinha vê o ovo pensa que está lidando com uma coisa impossível. É com o coração batendo, com o coração batendo tanto, ela não o reconhece.
De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. Fora de cada ovo particular, fora de cada ovo que se come, o ovo não existe. Já não consigo mais crer num ovo. Estou cada vez mais sem força de acreditar, estou morrendo, adeus, olhei demais um ovo e ele me foi adormecendo.
A galinha não queria sacrificar a sua vida. A que optou por querer ser “feliz”. A que não percebia que, se passasse a vida desenhando dentro de si como numa iluminura o ovo, ela estaria servindo. A que não sabia perder-se a si mesma. A que pensou que tinha penas de galinha para se cobrir por possuir pele preciosa, sem entender que as penas eram exclusivamente para suavizar, a travessia ao carregar o ovo, porque o sofrimento intenso poderia prejudicar o ovo. A que pensou que o prazer lhe era um dom, sem perceber que era para que ela se distraísse totalmente enquanto o ovo se faria. A que não sabia que “eu” é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada. A que pensou que “eu” significa ter um si-mesmo. As galinhas prejudiciais ao ovo são aquelas que são um “eu” sem trégua. Nelas o “eu” é tão constante que elas já não podem mais pronunciar a palavra “ovo”. Mas, quem sabe, era disso mesmo que o ovo precisava. Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo.
Comecei a falar da galinha e há muito já não estou falando mais da galinha. Mas ainda estou falando do ovo.
E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver.
Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe a casca e forma. E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.
A todos os agentes são dadas muitas vantagens para que o ovo se faça. Não é o caso de se ter inveja pois, inclusive algumas das condições, piores do que as dos outros, são apenas as condições ideais para o ovo. Quanto ao prazer dos agentes, eles também o recebem sem orgulho. Austeramente vivem todos os prazeres: inclusive é o nosso sacrifício para que o ovo se faça. Já nos foi imposta, inclusive uma natureza adequada a muito prazer. O que facilita. Pelo menos torna menos penoso o prazer.
Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas e se sentem sem apoio. Houve o caso do agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendido, e ele não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu atropelado quando saía de um restaurante. Houve um outro que nem precisou ser eliminado: ele próprio se consumiu lentamente na sua revolta, sua revolta veio quando ele descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. Houve outro também eliminado, porque achava que “a verdade deve ser corajosamente dita”, e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim.
Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.
E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito. Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar a minha vida de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio de verba, ultimamente comprei ações na Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo de ter a necessária modéstia de viver. E também o tempo que me deram, e que nos dão apenas para que no ócio honrado o ovo se faça, pois tenho usado esse tempo para prazeres ilícitos e dores ilícitas, inteiramente esquecida do ovo. Esta é a minha simplicidade.
Ou é isso mesmo que eles querem que me aconteça, exatamente para que o ovo se cumpra? É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa. Com o dinheiro que me dão, ando ultimamente bebendo. Abuso de confiança? Mas é que ninguém sabe como se sente por dentro aquele cujo emprego consiste em fingir que está traindo, e que termina acreditando na própria traição. Cujo emprego consiste em diariamente esquecer. Aquele de quem é exigida a aparente desonra. Nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Ou sou um agente, ou é a traição mesmo.
Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar. O que me revela que talvez eu seja um agente é a idéia de que meu destino me ultrapassa: pelo menos isso eles tiveram mesmo que me deixar adivinhar, eu era daqueles que fariam mal o trabalho se ao menos não adivinhassem um pouco; fizeram-me esquecer o que me deixaram adivinhar, mas vagamente ficou-me a noção de que meu destino me ultrapassa, e de que sou instrumento do trabalho deles. Mas de qualquer modo era só instrumento que eu poderia ser, pois o trabalho não poderia ser mesmo meu. Já experimentei me estabelecer por conta própria e não deu certo; ficou-me até hoje essa mão trêmula. Tivesse eu insistido um pouco mais e teria perdido para sempre a saúde. Desde então, desde essa malograda experiência, procuro raciocinar desse modo: que já me foi dado muito, que eles já me concederam tudo o que pode ser concedido; e que os outros agentes, muito superiores a mim, também trabalharam apenas para o que não sabiam. E com as mesmas pouquíssimas instruções. Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei.
Mas e o ovo? Este é um dos subterfúgios deles: enquanto eu falava sobre o ovo, eu tinha esquecido do ovo. “Falai, falai”, instruíram-me eles. E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras. Falai muito, é uma das instruções, estou tão cansada.
Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar. Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta. E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha. Iluminando-a de minha palidez.
(O Ovo e a galinha - Clarice Lispector. In: Felicidade Clandestina: José Olympio, 1975)

domingo, julho 29, 2007

056 - 29/07/2007 - A cria

Quando o leão voltou da caça encontrou sua cria desamparada. Haviam outros leões na caverna mas ele só olhava para a cria. Deu-lhe um pedaço de carne e confortou-a. Em seguida avançou com toda sua fúria sobre os outros leões. Todos entenderam o recado.
Se você não é protetor então você é agressor.

quarta-feira, julho 18, 2007

055 - 18/07/2007 - Quarenta graus

Tirei esse print do meu computador agora, e foi um pouco tarde. Estava em 40 graus mais cedo.
Quando cheguei aqui, a temperatura variava entre 0 e 5 graus.
Depois o inverno apertou e a temperatura variava entre -10 e -15 graus.
Mês passado chegou o verão e a temperatura começou a oscilar entre 30 e 35 graus.
Hoje chegamos a 40, e acho que ainda vamos chegar a 41.
Depois dizem que o nosso clima é doido.
Doido, eu vou te falar, doido é o clima que, em menos de 6 meses varia 55 graus.
Isso é clima doido.
As meninas estão saindo, literalmente, de camisola pra rua.
Algumas saem de camisa de malha, calcinha e chinelo.
A mulher só de roupa íntima em frente ao nosso prédio nem se dá ao luxo de fechar a cortina ou mesmo de ver se tem alguém olhando antes de ir para a varanda fumar. Vai lá e fica, igual a uma lagartixa, fumegando e quarando ao sol.
Já vi 3 pessoas desmaiadas nas ruas da cidade e no metrô. O povo desorientado, o calor insuportável para eles. Os homens de cueca na porta de casa são uma afronta. Todo mundo indo trabalhar de sandália ou havayanas mesmo. A moda, que aqui já não tem força, é esquecida. Vista o que quiser, como quiser e da forma que quiser. Ninguém se importa. O verão aqui é quente. Muito quente. E os thermas são a salvação.
Quando esquenta muito eu logo penso em uma cerveja gelada.
Mas aqui não é o caso.
Aqui o negócio é água mesmo.
Água, muita água.
Não do Danúbio, que é podre, e nem as com gás, e nem as com sódio, e nem as com magnésio, e nem as fluoretadas, e nem as carbonadas, e nem as ionizadas, e nem uma das milhões de "variações da água" que vendem por aqui. Somente água. Still water. Água pura e gelada.
Ai ai...
Outro dia, dois velhinhos, no metrô, caíram escada rolante abaixo e eu, heroicamente, salvei os dois de se machucarem seriamente. Mas isso não tem nada a ver com o calor. É uma outra história.

terça-feira, julho 17, 2007

054 - 17/07/2007 - O jogo

E então havia o WarCraft III.
Como as pessoas faziam para passar o tempo antes dele eu não sei.
Como eu pude sobreviver até hoje sem esse jogo também não sei.
E como pode um par de CDs de joguinho pra computador deixar alguém assim, também, mais uma vez, não sei.

Sábado, nove horas da manhã.
O sol já esquentava o quarto desde quatro da madrugada e a ida para o Thermas "da ilha", aquele com toboáguas de 150 metros, estava garantida.
Gabriel e Davi dormiam, ainda se recuperando da noite onde guerrearam contra Orcs, Night Elfs e Undeads. Eu ligo o notebook e começo a brincar com o jogo, enquanto espero que acordem.
O Diego acorda.
E eu digo a ele que ele não passa de um verme rastejante quando o assunto é WarCraft.
Ele diz que se existe alguém que não vale o prato que come, esse alguém sou eu.
Carinhos trocados, desafio aceito.
Ele liga o notebook.
Ligamos um cabo de rede nos dois computadores.
Cada um com um CD.
Notebooks dispostos um de costas para o outro.
Começa o jogo.
No início tudo parece calmo.
Procuro ouro, madeira e itens para compor meu exército.
Treino "meus homens", como dizem nos filmes.
Estou forte e sou numeroso.
Com minha estratégia é fácil, pensei.
E parto pra cima do exército inimigo munido de soldados, arqueiros, cavaleiros, águias, heróis, peões, helicópteros, catapultas, fadas, lança-bombas e tudo o mais que eu tinha e que foi possível comprar ou construir.
No território inimigo o oponente resiste, mas não por muito tempo
A superioridade absoluta do meu exército é assombrosa, não há mais o que fazer...
A surra é generalizada
É possível ver a lágrima descendo dos olhos do derrotado.
São lágrimas fracassadas, infelizes. O oponente cai de joelhos.
O semblante se transforma e já dá para perceber a cara de cachorro que fez xixi no tapete e sabe que seu dono está chegando.
Os movimentos do mouse perdem a intensidade.
A aura escurece.
Enquanto isso me divirto olhando o massacre covarde dos bravos guerreiros sobre o exército puffy
E então,
Subitamente,
Durante um dos muitos recuos do inimigo,
E acidentalmente,
ele faz Uma descoberta,
no meio da batalha,
que dá início a uma pequena resistência.
A águia suicida.
Ela vai de encontro à minha e explode.
Águias suicidas, pensei, de onde veio isso?
E começa então uma reação em cadeia que segue em linha crescente e contrária à que se desenhava anteriormente.
Começo a enfraquecer.
Lutamos até não sobrar nenhum exército em campo. Nem meu, nem dele.
Fim da primeira batalha.

Mas a guerra não havia terminado e sob meu comando um novo exército estava sendo erguido.
Mas o lacaio mocorongo utiliza uma tática de ataque noturno.
E sorrateiramente constrói torres de destruição em massa bem próximas ao meu centro de comando.
Quando amanhece o dia
E antes que eu pudesse convocar meu novo exército
As torres entram em ação
Primeiro morre um soldado
Depois morrem dois
Já são dez
Cinquenta
Morrem todos
De fato, morrem quase todos
exceto um peão
Um mero trabalhador braçal
Tento escondê-lo
Mas chega alguém.
Assustadoramente maior que meu pobre peão
o golpe é único e suficiente.
Fim do jogo.
Eu perco a emocionante e empolgante disputa porque meu adversário aprendeu uma tática de guerra por acaso enquanto tentava fugir de mim.
As lágrimas agora estão no meu olho.
As lágrimas do bravo guerreiro. Lágrimas de ódio.
Porque eu odeio perder.
São três horas da tarde.
Já não dá mais pra ir ao thermas da ilha.
Amanhã a gente vai.
Agora é a vez dos meninos.
Dez horas da noite sou eu de novo.
Contra ele.
Porque eu odeio perder.

Warcraft III

sexta-feira, julho 13, 2007

The Runner

Este vídeo foi elaborado, produzido, filmado e distribuído pelo meu amigo Marcelo. O mesmo que cobrou a foto no blog outro dia.
A parte da filmagem em Budapeste foi feita por mim, basicamente a parte melhor...

Este vídeo precisa de som. Dura 4 minutos e é imperdível. De tão singelo. É uma comédia romântica com aventura. Liguem o áudio, relaxem e aproveitem a viagem.

segunda-feira, julho 09, 2007

Sugestão do dia

Hoje não dá pra escrever e então sugiro que leiam a segunda versão das coisas de Budapeste: O blog do Diego, meu irmão.

http://diegorodriguess.blogspot.com/

quarta-feira, julho 04, 2007

053 - 04/07/2007 - Verão em Budapeste

Dias desses relendo o blog preto, do meu irmão Diego, reparei que ele notou logo a essência ácida que paira no ar de Budapeste. O sol a pino, com temperaturas de 35 graus, faz com que os nativos andem pelas ruas com roupas que vão do "pouca-coisa" ao "quase-peladim". Já vi meninas com shorts que fazem aquele shortinho feminino de educação física parecer coisa de conservadores. Mas fato é que o verão está aí, para quem quiser ver e sentir. E, diferentemente do que eu imaginava, se eles não tomavam banho no frio, porque estava frio, também não o fazem no calor, e eu desconheço o motivo.
Quando entro no metrô pela manhã, para ir ao trabalho, percebo logo os sinais. Ainda que meu nariz esteja completamente entupido é possível saber que a maré está ácida, porque arde o olho. Aquele clima vinagrético que sobe pelas narinas e queima a mucosa é o mesmo que resseca e irrita a pupila. Eu sempre tenho a reação intuitiva de tentar, discretamente, verificar se sou eu. Mas é impossível. Para que o cheiro retorne a níveis humanos é preciso primeiro diluir a nuvem verde que cerca cada um.
Porém, todos são lindos. Lindos Fedidos. As mulheres que a gente vê nos outdoors no Brasil são apenas mais uma aqui nesse mar de lindas catinguentas. Não reparo tanto nos homens, por questões religiosas, mas segundo ouvi da Cláudia, também são uns bofes azedos.
Nós somos limpinhos, asseados, temos o estranho hábito de usar produtos químicos debaixo do braço para abrandar a força da natureza, usamos sabonete, passamos creminho e as mulheres depilam. E no entanto, as húngaras, proporcionalmente, são, em número, muito mais bonitas do que feias, ao contrário do Brasil.
Então eu só posso concluir que a beleza advém da sujeira.
Estou pensando em fazer o teste de embelezamento natural. Ficarei por uma semana sem banho e sem desodorante. Sob o sol do verão. Até adquirir a aura verde. Até sentir o xorume deslizando pelo pescoço. Até sentir a beleza começando a fluir no meu sangue. Até ficar lindo, branco, alto, forte e do olho azul. E fedido. Lindo fedido.

...

O chão era um quadrado, mas não com as quinas que tem todo quadrado. Era como se as quinas fossem cortadas e fosse feito um desenho em forma de ferradura religando as laterais. O chão então era um quadrado não muito grande e no local onde deveriam ser as dobras estavam outros pequenos cômodos, no formato de uma ferradura. E eu deveria ficar ali, no cômodo pequeno, em uma das pontas, em pé, olhando para o centro do quadrado.
Me disseram para ficar ali, mas eu não quis ficar, e então saí.
Algum tempo depois conheci uma pessoa no navio em que estávamos e que acabou tornando-se um amigo. Ríamos muito mas tínhamos nossas brigas. E uma delas foi muito séria. E foi nesse dia que aconteceu o pior. Meu amigo disse coisas que não se deve dizer, nem pensar, e que me magoaram muito. Desci para o porão do navio, um lugar apertado, frio, úmido e pequeno. Era um navio velho, daqueles em que as madeiras rangem. Bebi muito e então adormeci.
Quando acordei meu amigo estava na escada e gritava chamando os outros. Levantei-me e fui em sua direção mas ele não me olhava e apontava para o canto onde eu estivera dormindo, pouco antes de levantar. Seu rosto estava transformado e tomado pelo pânico. Eu olhava em seus olhos e pude ver quando ele disse que ele deveria estar morto. Quem será ele? Pensei. Olhei para o chão, para onde ele apontava, e me vi ali, parado, inerte. Mas aquele sou eu! E era. Eu estava na escada, mas já não me via. Sabia somente que de alguma forma eu me sentia em pé, na entrada do porão, e ao mesmo tempo me via no chão, um pouco mais à frente.
E novamente o chão era quadrado. E eu estava de pé na borda do quadrado, no cômodo pequeno, olhando para o centro. Disseram-me que eu deveria ficar ali, enquanto aguardava minha vez. Mas eu não quis ficar, e então saí.
Conheci uma menina por quem me apaixonei. Contava com pouco mais de vinte anos e tudo corria muito bem. Até que um dia ela me chamou. Disse que o tempo passou e que as coisas mudaram. Que seria injusto continuar comigo. Que eu estaria entregando todo o meu amor para alguém que não me amava. Não havia mais volta, dizia ela. Estava terminado. Não consegui suportar a dor. Fechei a porta do quarto e chorei até adormecer. No outro dia levantei melhor, caminhei até a janela e olhei para baixo. Vi a enorme multidão. Havia uma ambulância e muito barulho. E então eu me vi.
De novo o chão quadrado. Eu em pé, no cômodo pequeno. Em silêncio. Olhando fixo para o centro.
Disseram para eu ficar e esperar. Resolvo que dessa vez vou esperar.
Mas não consigo.
Saio do cômodo pequeno mas não vou embora. Caminho para o centro do quadrado.
Olho para cima, na direção do teto e há uma porta. Está aberta, mas eu não subo.
Dou um giro para ver as quatro entradas, uma em cada ponta do quadrado.
O meu cômodo está vazio e existem outros três. Outras pessoas estão ali, paradas, em pé, olhando para o centro, e neste momento, também olhando para mim.
Há uma placa na entrada de cada cômodo.
Em todas elas está escrito a mesma coisa. Não me esforço para ler, não quero ficar ali.
Então um anjo se aproxima, e gentilmente me pede para que volte ao meu cômodo e aguarde.
Estou cansado demais para dialogar, e resolvo caminhar de volta.
Para o meu cômodo, para o silêncio.
Para o eterno olhar fixo em direção ao centro do quadrado.
Para a longa espera.
E enquanto caminho para a borda ainda consigo ler rapidamente aquela placa.
"Sob cuidados especiais"
E na linha de baixo
“Suicida”

segunda-feira, julho 02, 2007

052 - 02/07/2007 - Risco de vida

O que pode ser mais perigoso, arriscado, estúpido e insano que cortar o cabelo da própria mulher?
Tudo começa muito simples: Pode cortar essas pontinhas que apareceram aí atrás...
E então o universo pára
e toda a população parece prender o ar e olhar pra você
O mundo fica em silêncio
Os pássaros estão mudos
E você com a tesoura na mão observa as madeixas
Respira fundo e começa a cortar
pensando se suas ações não são iguais às de um drogado
que sabe que aquilo irá lhe fazer muito mal
mas mesmo assim continua
Um pouco aqui e um pouco ali
Um pouco aqui e outro pouco ali
Cinco centímetros de cabelo
É o meu fim, você pensa
E então você acaba
Olha pra ela
E espera,
como que no jogo Street Fighter,
pelo golpe mortal.
Mas então,
surpreendentemente,
ela te olha e diz
que está bom assim
e você respira aliviado
porque sua vida foi poupada,
mas jura que dá próxima vez
não será tão ingênuo,
e quando avistá-la novamente com uma tesoura nas mãos
saíra correndo pela porta
em direção à rua
independente da hora
independente do dia
ainda que esteja chovendo
vestido ou pelado
na alegria ou na tristeza
na saúde ou na doença
para sua propria segurança
porque cortar o cabelo da propria mulher
e remédio pra dormir junto com laxante
são coisas erradas
e ninguém deve fazer.

sexta-feira, junho 29, 2007

051 - 29/06/2007 - Sem pé, sem cabeça e inacabado...

Eu pensei em fazer um texto diferente mas aí logo em seguida mudei de idéia e resolvi contar o dia do aniversário da Cláudia quando a gente resolveu que o melhor seria sair para um passeio onde pudéssemos estar todos juntos comemorando esta data tão importante ainda mais que estamos aqui longe de casa de tudo e de todos numa situação que fica entre o legal e o chato porque é legal estar aqui na Hungria conhecendo Budapeste passeando trabalhando conhecendo outros lugares e outras culturas porém ao mesmo tempo é chato porque os amigos e os parentes são aquilo que verdadeiramente importam na nossa vida e que sem eles nada valeria muito a pena tanto é que o que salvou mesmo o aniversário foi o fato de estarmos juntos pois poderia ser pior poderia ser muito pior mesmo se a Cláudia estivesse sozinha aqui seria o caos seria uma tristeza enorme desperdiçar toda a beleza de que se pode desfrutar desse lugar estando sozinho porque se você pensar bem se um dia você for conhecer o lugar dos seus sonhos ou a pessoa da sua vida ou se conquistar qualquer outra coisa que tenha desejado muito mas se nao tiver alguem por perto pra você poder dividir sua alegria entao a coisa nao valeu nao vai ter a mesma graça nao vai ser tao legal quanto foi a festa do aniversário na segunda-feira no Friday's onde comemos um bife de boi bem gordo e suculento daqueles que fazem mal à saúde mas que de certa forma fazem bem porque é impossível que uma coisa deliciosa possa fazer só mal tem que ter um algo de bom naquilo ou senão ninguém comeria ou a carne seria um vício proibido que é bom na hora mas que faz muito mal depois mas independentemente disso a carne vermelha é uma raridade aqui quase só tem frango porco e peixe muito mais frango que tudo e depois vem o porco e por último o peixe que também nao tem muito já que a Hungria nao tem mar e por isso talvez o peixe seja tao caro e apareça tão poucas vezes nos pratos dos restaurantes o que é bem diferente da carne de boi que quase não existe mesmo e quando existe tem preços exorbitantes tornando às vezes impossível o seu consumo como naquela vez em que vi num cardápio em que um filé com arroz e milho custava mais de cem reais e não era um bife que atravessava a mesa de uma ponta à outra era um bife comum pequeno e até meio mirrado mas não foi o caso do Friday's que foi legal à beça realmente foi muito divertido ver a Cláudia ficando tontinha com coquetel de morango e tequila e também o fato de estar ali naquele restaurante bacana com minha família que é a melhor de todas além disso os meninos foram super bem-tratados ganharam balões e lápis de cor para desenhar só o Diego que não ganhou balão mas acho que o que ele queria mesmo era um desses sacos para vomitar que tem em avião porque ele ficou enjoado o tempo todo sabe ele parece que só está acostumado com angu e quando veio pra cá piorou porque só comeu franguinho pra lá e pra cá daí quando fomos comer uma carne de verdade ele passou mal passou mal mesmo e vomitou até depois que saímos de lá vomitou na rua antes de chegar em casa mas hoje ele já está bem foi só naquele dia mesmo quer dizer não sei se da próxima vez convém levar ele por que pode ser que ele comece com essa história de enjôo e vômito mas no final a gente acaba chamando porque ele não é só meu irmão agora ele é irmão da Cláudia do Gabriel e do Davi também porque conquistou o coração de todo mundo inclusive o da Cláudia mesmo que é o mais difícil haha tenho certeza que ela não vai gostar de ouvir isso e vai dizer que não é assim porque o coração dela está sempre aberto e que qualquer um pode chegar e entrar e se instalar mas tudo bem deixa pra lá não vou ficar aqui discutindo sobre o coração da Cláudia eu já estou lá e pra mim isso é o que conta de verdade e por falar em contar quando a gente saiu do Friday's e depois de passar no supermercado pra comprar água e umas outras coisas que não lembro ou estou com preguiça de escrever e também depois do Diego sair vomitando pela rua afora a gente acabou chegando no nosso hotel que já não é mais hotel é a nossa casa é o nosso lar porque hotel tira um pouco da beleza da coisa é muito impessoal e por isso eu prefiro falar lá em casa em vez de falar lá no hotel mas aí a gente chegou em casa e subimos para o nosso apartamento e quando chegamos lá o Diego já foi desmontando no sofá porque estava passando muito mal ao contrário da Cláudia que estava passando muito bem graças ao aniversário no Friday's ao coquetel ao bife suculento ao fato de estarmos juntos ali e também porque ainda tinha um bolo com recheio de sorvete esperando por ela e foi por isso que eu falei em contar porque eu comprei uma velinha para cada ano que ela tinha nao que eu va contar quantos anos ela tem primeiro porque isso nao importa e segundo porque aprendi que é deselegante mas enfim eu só sei que botamos todas as velinhas no bolo na verdade foi o Gabriel e o Davi e entao cantamos o parabéns para a Cláudia e deu tudo certo foi bem legal só na hora que a Cláudia soprou as velinhas é que toda a fumaça foi direto para o rosto do Davi e ele acabou perdendo o equilíbrio e caiu no chão assustado mas não foi nada sério foi só um susto mesmo daí tiramos muitas fotos porque a Cláudia exige muitas fotos mesmo que você peça uma só ela precisa tirar duas e se você quiser duas ela precisa tirar quatro é sempre assim sempre muita foto mas entao aí a gente continuou com a festa que só tinha bolo mas que estava legal e então o Diego não melhorava nunca e eu acabei engrossando com ele porque ele não se cuida não bebe água e o calor daqui está como o do Rio de Janeiro sabe como é né muito mas muito quente mesmo então já viu e ele além de tudo cismava de encher a banheira que tem aqui no apartamento e ficar mergulhado ali naquela água quente e é bom mesmo eu concordo mas não dá pra ficar abusando do clima aqui o ideal é tomar muito líquido para refrescar e hidratar usar roupas leves e comer pouco mas ele comia bastante não agora que está seguindo os conselhos mas antes de passar mal ele comia mesmo e fica va de tênis dentro de casa e eu já falei pra ele tirar os tênis por causa do calor agora ele tira mas antes não tirava ainda bem que ele está seguindo os conselhos da gente agora pois a gente não faz por mal é só pra ajudar mas enfim ele acabou dormindo e fomos dormir também porque já era bem tarde e eu tinha que trabalhar no outro dia pois era segunda-feira ainda...

quarta-feira, junho 27, 2007

050 - 27/06/2007 - Aniversários importados

O Davi fez aniversário em Budapeste, Hungria, olha que legal.
A Claudia também fez, olha que legal.
O Diego vai fazer também, olha que legal.
E o Gabriel também deve fazer, olha que legal.
E eu com certeza não vou fazer, olha que deslegal.

quinta-feira, junho 21, 2007

049 - 22/06/2007 - De volta ao trabalho

Olha, enquanto a Cláudia fala sobre a nossa fase européia da vida, fala sobre as belezas da cidade, sobre o dia a dia, sobre a história de Budapeste, sobre a cultura, as águas termais, sobre o prazer de estar vivo e com saúde para poder desfrutar de tudo isso, eu tenho mais o que fazer. E vou falar de mosquitos. Isso, aqui tem mosquitos. Uma sequência interminável desses animaizinhos irritantes e pestilentos. Você não esteve em Budapeste até comer um mosquito. Eles são minúsculos. E verdes. E são muitos.
Eu já comi cinco mosquitos húngaros. Não tem gosto de nada. Você simplesmente abre a boca e eles estão lá, prontos para serem engolidos. Parece que é para isso que são feitos. Para entrarem na nossa boca e serem engolidos. Eu detesto mosquitos. Eu detesto mosquitos verdes, na verdade eu detesto todo e qualquer animalzinho irritante e pestilento, verde, minúsculo, aos montes, e que voam em minha direção. Onde está o frio? Eu quero o frio. Quero congelar de frio. Ao menos não tem mosquito. Odiosos mosquitos.

quinta-feira, abril 12, 2007

048 - 12/04/2007 - Marcelo

Eu tenho um amigo.
Seu nome é Marcelo.
Ele gosta de viajar.
Ele trabalha com computadores.
Isto não é um curso básico de português para estrangeiros, é uma história real.
Conheci este caboclo na Polônia e foi ele que, com toda a paciência do mundo, me ajudou a sobreviver nos primeiros meses de vida além-Brasil. Em muitas daquelas vezes onde eu pensava "eu odeio todo mundo que não fala português" era ele quem me dizia "calma, ainda vai piorar"
Alguns dias atrás ele veio me procurar para reclamar. Disse que meu post sobre a Citadella estava no plural mas que eu não tinha citado quem era o outro personagem da aventura. Então soquei-lhe a face, como Zeus quando descarrega sua ira sobre Hades.
Na verdade, eu só disse "ok, vou corrigir isto".
E então revelo agora ao mundo quem é o misterioso (!?) amigo que me acompanha nesta longa e sinuosa estrada internacional da vida...

047 - 12/04/2007 - Castelo de Buda com Café

Fui conhecer o Castelo de Buda. Não o Buda, mas a Buda, o lado residencial de Budapeste.
Para começar, escadas. Muitas escadas. Por quê eles não fazem as construções no nível do rio?
O castelo foi bastante danificado durante a guerra e está sendo reconstruído. É muito legal andar e se impressionar a cada instante.
É possível ver aquelas paredes de pedras enormes, bem antigas, como também paredes de tijolinhos e até janelas de alumínio...
O que mais me chamou atenção, mesmo, foi o café. Não o sabor, o preço. Se eu não estou com moedinhas contadas eu não pergunto o preço do cafezinho. Maldito hábito. Convertendo para reais paguei por volta de doze reais por uma minguada e sem-graça mini-xícara de odioso café.
Lembrete para mim: Tomar o cafezinho sempre antes de entrar no ponto turístico.













sábado, abril 07, 2007

046 - 07/04/2007 - Citadella - Parte II

Continuamos subindo.
E subindo....
E subindo...
E subindo...
E então chegamos ao topo, ou melhor, o que restou de nós chegou ao topo.
Entramos e fomos conhecer o "forte". Muita coisa mudou mas muita coisa também foi preservada. É emocionante.
E quando achávmos que o passeio tinha acabado eu vi uma placa "Bunker 1944". Foi ali que tudo mudou. Entramos para ver e era um caminho que descia para o interior da montanha. Lá dentro funcionava o refúgio anti-áereo durante a segunda guerra mundial. Hoje uma espécie de museu do horror. Fotos, armas, bandeiras, bonecos, grades, celas e aquele ar sombrio. Entramos rindo. Saímos calados. Eu ainda não sei se gostei de ter ido lá. A atmosfera do lugar não tem nada da beleza que há do lado de fora.
Não quis tirar fotos mas filmei enquanto andava lá dentro. Segue o link. Não é bonito.
http://www.youtube.com/watch?v=7YI8kbK6sMI

045 - 07/04/2007 - Citadella - Parte I

Semana passada fui conhecer a Citadella. Fica no ponto mais alto de Budapest e fica ao lado do castelo de Buda. Foi erguida em 1854 depois da derrota da guerra de independência húngara em 1848. Eu não sei isso, eu copiei de outro site.





Agora por minha conta: Para chegar são duas opções, de ônibus porém sem nenhuma graça, ou a pé, subindo a escadaria em volta da montanha até chegar ao topo. Não contei, mas estimei entre oito e nove bilhões de degraus.

Existem pontos de parada no meio do caminho que possuem uma vista bem legal do rio Danúbio e servem também pra gente recuperar o oxigênio. Um pouco depois do começo da subida encontramos essa igreja. Fica no interior da montanha, uma espécie de caverna-igreja. Muito bonita e diferente.
Lá dentro uma senhora falou comigo e eu não entendi. Falou e falou e nada. Por fim fez um gesto pra eu tirar o boné...
Quando eu contei pra Cláudia que eu não sabia que a gente não deve entrar de boné na igreja ela riu, e disse pra eu não contar isso pra ninguém. Então tá, pensei, não vou contar pra ninguém, vou colocar só no blog.

044 - 07/04/2007 - Beto Carrero

Quando eu estava no meu home leave, que é o nome chique para semana-de-descanso-em-casa, fui ao Beto Carrero World. Com meus filhos, mulher, irmão, pai e mãe. Como coube tanta gente no carro? Não lembro mais. Não importa.
O parque é um lugar que precisa ser visitado. Quem ainda não foi deve ir e quem já foi e não gostou deve voltar com companhias melhores, haha.
Apesar do sol de 80 graus todo o resto foi excelente. Fomos em praticamente todos os brinquedos e neste dia a corredeira me escolheu para descarregar sua fúria. Éramos sete pessoas no barco, mas as ondas, com uma mira laser, acertavam somente em mim. Saí tão molhado quanto o fundo do rio.
Foi um passeio muito gostoso e que recomendo para todo mundo. Crianças, pessoas com mais de 60 anos e "moradores do Paraná" tem desconto. Finalmente valeu a pena ter mudado de BH...
Minha mãe e meu pai desceram na maior torre de queda livre do mundo. Passaram no teste do coração. Quem quiser ver o vídeo é só clicar no link http://www.youtube.com/watch?v=bYkWKXHNCeo
Para esclarecer: O cigarro aí na foto é só para a foto, eu não fumo. Assim como a roupa de cowboy. Eu não fui assim para o parque...

domingo, março 25, 2007

043 - 25/03/2007 - Para mim

Eu morro de medo de perder as pessoas que eu amo e, talvez, por isso mesmo, eu tenha medo de amar assim, tão solto, tão entregue, com os olhos brilhando, cheios de lágrimas, com riso, com choro, com vida.
Já faz algum tempo que comecei a guardar só para mim meus sentimentos mais intensos. Justamente aqueles que deveriam ter sido entregues a quem os provocou. Todo aquele amor e todo aquele ódio transformando tudo em mim. Com um peso enorme. Aquilo tudo se acumulando, uns sobre os outros, desordenados, sufocados, e não vividos. A vida passando, as coisas acontecendo e eu ali, incapaz de aproveitar, com medo de perder, qualquer mínima sensação que fosse, boa ou ruim, qualquer coisa.
Agora estou abrindo o portão. E não sei bem o que vai sair de lá. Talvez um menino. Um menino triste, pequeno, com os olhos virados para baixo, tentando não cair, pedindo colo, talvez chorando, ou rindo quem sabe, afinal foi libertado. Aquele menino, incapaz de fazer o mal, aquele menino que amava sua avó, que ouvia suas histórias e acreditava nelas.
Agora solto. Livre.
Talvez para crescer, talvez para reparar todos os danos causados a tantas pessoas, não por maldade ou por vontade, mas por medo.
Por insegurança.
Talvez esse menino tenha mesmo que crescer. As coisas são assim. E serão sempre assim.
Há um quarto escuro e é preciso caminhar. Hoje já é possível ver as mãos estendidas, esperando para ajudá-lo a sair.
E tem a luz lá fora.
E já não há medo.
Seja bem-vindo ao mundo pequena criança.
Não se preocupe mais. Está tudo bem.
Seja feliz. Você merece.

sábado, março 24, 2007

042 - 25/03/2007 - E eu vou me casar...

É, então eu vou me casar...
A sensação?
A sensação é fácil de explicar.
Pegue um cd, aquele que você mais gosta, com uma música suave, uma voz macia
Apague a luz, aumente o som
Esqueça tudo, feche os olhos
Respire fundo
Sorria
Deixe a música ir tomando conta devagarinho
Entre em um transe hipnótico como jamais esteve antes
Sinta que você pode tudo
Sinta que toda a sua vida está valendo a pena
Que você é feliz
Que está exatamente onde queria estar
E aí está

quinta-feira, março 22, 2007

041 - 22/03/2007 - Ralo e Fio Dental



Não existe ralo aqui. Isso mesmo. É uma péssima idéia deixar a banheira encher e transbordar. A água não tem para onde escorrer no banheiro e sái para o quarto alagando o carpete cinza de bolinhas laranja.

Também não tem fio dental. Ou melhor, esse tem, mas não é em qualquer lugar que a gente acha. É quase que uma loja de artigos exóticos para higiene bucal. Se eles nem tomam banho, imagina passar fio dental...

Esse aí em cima é o Sr. Sabão. Ele apareceu no meu banheiro no dia que tomei duas latinhas de cerveja. Não dá pra viver sozinho. Se o Náufrago encontrou Wilson, eu encontrei o Sr. Sabão.

quinta-feira, março 01, 2007

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

039 - 26/02/2007 - 4 dias

E o que importa? O que realmente importa?
E a saudade vem em ondas...
Eu choro
Eu espero
Eu vejo cada longa e angustiante hora passando
Ali na frente tem um árvore
E é naquela sombra que eu quero estar

domingo, fevereiro 25, 2007

038 - 25/02/2007 - 5 dias



Faltam cinco dias para para eu voltar ao Brasil. E, não sei bem, mas tenho a impressão de que era mais fácil quando faltavam quarenta e cinco dias. Com quarenta e cinco dias a gente tem uma espécie de "eu desisto, vou tocar minha vida, esse dia nunca vai chegar", mas com cinco dias... é... é difícil, tem a ansiedade, tem a vontade louca de que eles passem rápido, e então o tempo desacelera, e você olha o relógio e vê que o ponteiro está se movendo mais lentamente. Isso é paradoxo porque quanto mais dias faltam, menos dias de angústia eu tenho, o que me leva a concluir que quanto mais longe, menos sofrimento, o que não faz nenhum sentido.

Essa semana quase não saí. Aquele roller amaldiçoado machucou direito minha perna esquerda e preferi ficar quieto no hotel. De terça-feira até hoje assisti 48 episódios da série Friends, 2a. e 3a. temporadas completas. Jennifer Aniston nunca é demais. Comprei os dvds aqui mesmo e as opções sào húngaro ou inglês. Vejo em inglês com legenda em inglês, assim posso treinar o ouvido e ver como certas palavras são escritas. A propósito, o título em húngaro de Friends é Jóbarátok. O último episódio que vi foi "A kinőtt póló e a féltékenység". Nem adianta me perguntar o que é.

Leite gelado, de cabra, da Áustria, e biscoito "com mais chocolate que biscoito"... sem comentários.

domingo, fevereiro 18, 2007

037 - 18/02/2007 - Passeio de roller

Patins novos. Protetor para o punho. Roupa apropriada. Domingo. Sol. Dia perfeito para ir até a ilha estrear o roller. Primeiro tirei fotos, o que foi um tanto quanto difícil. Tinha que colocar a máquina no disparador automático e sair correndo, de patins, dentro do quarto até um ponto onde conseguisse sair inteiro na foto. Essa foto foi a melhorzinha...
Saí do hotel e fui andando até a ilha. Ela tem uma pista de mais ou menos cinco quilômetros onde as pessoas andam, pedalam ou, como eu, arriscam a vida num roller.
Cheguei, sentei num banco daqueles de pracinha de cidade do interior e calcei os patins. Guardei o tênis na mochila que estava nas costas. Pronto. Agora é só levantar e andar. Antes, mais uma foto.
Agora sim.

Levantei e comecei a andar pela pista. No terceiro ou quarto passo, um desequilíbrio. Ajeito o corpo, o pé não vem. O pé esquerdo desliza para a frente e tento compensar. É o primeiro solavanco. Abro os braços tentando manter o equilíbrio mas o pé direito levanta e bate o freio dos patins no chão. É a hora em que eu rodo no ar. Vejo minha perna esquerda virando para o lado, depois para cima e por fim para a frente. Segundo solavanco. Os braços viram pra baixo, já prontos para o impacto. E então, blafff.

Estou caído. Olho em volta e ninguém por perto. Melhor assim. Levanto e tento andar até o próximo banco mas a perna esquerda dói demais. Tirei os patins ali mesmo. Voltei para o hotel. Estou fazendo compressas de gelo até o joelho melhorar. Eu odeio patins.

Depois que caí com o roller e voltei para o hotel, fiz esse vídeo bem "melancólico" para demonstrar a minha descrença no futuro da humanidade e também a minha tristeza de ex-rollerman. Para ver o vídeo é preciso ligar o som, senão não faz sentido. http://www.youtube.com/watch?v=kJs4EJOgi7Q

036 - 18/02/2007 - Carnaval e Pizza

As fotos foram tiradas num outro dia. Desde o início do mês que o canal Fashion TV vem mostrando imagens do carnaval do Rio com uma contagem regressiva do tipo "faltam 5 dias...". O detalhe fica para a montagem e o áudio. Em primeiro lugar destacam sempre as peladonas. E o áudio, esse sim é estranho. Colocam outra música em cima. Ontem foi a mais estranha de todas pois não era samba e nem era brasileira...

Ontem não quis sair para comer e pedi uma pizza.
Em cima da pizza tinha um ovo.
Tinha um ovo em cima da pizza.





domingo, fevereiro 04, 2007

035 - 04/02/2007 - Margaret Island


Hoje caminhei até a ilha que tem no meio do Danúbio. Uma das ilhas. Margaret Island.

É enorme. Aluguei uma bicicleta e fui percorrer os cinco quilômetros da ilha. Tirei algumas fotos e fiz um vídeo. As fotos estão logo abaixo mas o vídeo dá uma idéia melhor do lugar.

034 - 04/02/2007 - City Park


Saí para caminhar e para ver a localização do apartamento onde vou morar. Afinal vou ficar até o fim do ano com a família, não dá pra viver tanto tempo num hotel.

Aproveitei o passeio para ver a cidade. Acabei chegando nesta praça, que é perto de um parque, de um zoológico e de um circo. Muito legal. O rio seco e coberto de folhas é muito bonito. Muito mesmo. A praça tem uma história para contar mas eu faltei à aula bem nesse dia. Depois vou ver na internet.