Observar aquele menino que ficava entretido pegando a areia do chão e jogando de volta me dava uma sensação que há tempos vinha me faltando. Leveza, ou melhor, conforto, ou, melhor ainda, algo mais parecido com o que sentia aquela menina, quando encontrava-se com o fauno no filme "O labirinto do fauno". Alguma coisa como "que bom que você está aqui".
Enquanto eu observava eu via que às vezes ele me olhava e sorria. Um sorriso daqueles que a gente dá para o filho quando vê ele dormindo ou quando quer trocar um carinho à distância, com alguém que a gente gosta. Eu recordei minha infância, lá atrás, longe, quando pegar a areia do chão e jogar de volta era bom, quando não fazer nada e estar ali era bom, quando eu nem sabia que tudo era simples, porque tudo era simples.
Mas agora eu estava ali.
E o ar que estava calmo se agitou.
As veias se inflaram e ficaram visíveis. Os músculos se enrijeceram.
As nuvens fecharam o céu e tudo era frio.
Levantei-me ergui os braços e eu estava forte.
Em pé, já não havia mais criança.
E assim de súbito, e com toda a força desesperada de quem está sem saída, corri.
Contra o vento e contra a chuva, contra a tempestade e contra tudo. O céu era cinza mas não importava. Tudo era pouco e tudo era simples, tudo era fraco e tudo era possível.
Que seja e que venha. Se é inevitável que aconteça logo. E seja breve.
Pois eu ainda quero jogar a areia de volta.
E não vou parar antes de conseguir.
Um comentário:
Adorei o texto! Meu irm�o � escritor! uau
Lindo mesmo, to adorando seu blog!!!
Beijos
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