Quando entro no metrô pela manhã, para ir ao trabalho, percebo logo os sinais. Ainda que meu nariz esteja completamente entupido é possível saber que a maré está ácida, porque arde o olho. Aquele clima vinagrético que sobe pelas narinas e queima a mucosa é o mesmo que resseca e irrita a pupila. Eu sempre tenho a reação intuitiva de tentar, discretamente, verificar se sou eu. Mas é impossível. Para que o cheiro retorne a níveis humanos é preciso primeiro diluir a nuvem verde que cerca cada um.
Porém, todos são lindos. Lindos Fedidos. As mulheres que a gente vê nos outdoors no Brasil são apenas mais uma aqui nesse mar de lindas catinguentas. Não reparo tanto nos homens, por questões religiosas, mas segundo ouvi da Cláudia, também são uns bofes azedos.
Nós somos limpinhos, asseados, temos o estranho hábito de usar produtos químicos debaixo do braço para abrandar a força da natureza, usamos sabonete, passamos creminho e as mulheres depilam. E no entanto, as húngaras, proporcionalmente, são, em número, muito mais bonitas do que feias, ao contrário do Brasil.
Então eu só posso concluir que a beleza advém da sujeira.
Estou pensando em fazer o teste de embelezamento natural. Ficarei por uma semana sem banho e sem desodorante. Sob o sol do verão. Até adquirir a aura verde. Até sentir o xorume deslizando pelo pescoço. Até sentir a beleza começando a fluir no meu sangue. Até ficar lindo, branco, alto, forte e do olho azul. E fedido. Lindo fedido.
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