terça-feira, dezembro 29, 2009

A chuva mata

 

A chuva sempre mata
A chuva mata pessoas
E também mata a sede
das sementes no milharal


Também mata a fome
quando irriga as plantações
e mata os animais
que viviam no leito seco
do rio que já não corria


Mas a morte da chuva é boa
Ela mata o calor
Ela mata o suor
Ela lava a rua suja
Mas mata o entregador


Mas o pior da chuva mesmo
é quando você está na chuva
e percebe que na sua casa
esqueceu o seu guarda-chuva


E você pensa "o que que eu faço?"
Então avista o camelô
que vende por 10 real
O guarda-chuva salvador.


Você caminha pela chuva
tão feliz e sorridente
Agora não molha a chapinha
E a roupa não é transparente


Mas então num escorregão
Você bate com a cara na poça
Rebenta sua cara de moça
E torce pra que ninguém te veja


E também já não pede ajuda
Por causa de tanta vergonha
Com a bunda virada pra cima
Guarda-chuva no meio da rua
A cara enfiada na poça
O salto quebrado na ponta
Que chuva mais filha da put...


quarta-feira, dezembro 23, 2009

Aquele post do cortejo fúnebre


Hoje quando eu vinha trabalhar estava passando por um cortejo fúnebre.

Então por uma dessas razões que nem o espírito de natal consegue explicar,

Eu acabei num engarrafamento, entre o carro que levava o corpo e o resto da fila

Eu era o mais “próximo” do morto.

Aí, enquanto seguia o cortejo do desconhecido, fiquei pensando: Funerárias são uma espécie de Delivery de cadáver. Você liga, e eles entregam em qualquer cemitério...

Depois saí do cortejo e vim para a labuta...



segunda-feira, dezembro 21, 2009

Lamazinha quando nasce, esparrama pelo chão...


Lama miserável
que vem da terra
que mata o rio
que desce a serra

Lama poderosa
barrenta e sebosa
que prende meu dia
no meio da rua

que é terra e é água
que é vida e é morte
que em minha pouca sorte
encontrei outro dia

e então o meu carro novinho e preto
na estrada de terra com ela topou
desci com as sacolas bem puto da vida
dizendo "que merda" quando ele atolou
"Que saco", "que bosta", "que lama idiota",
e a roda afundando sem nunca parar
"carvalho", "buçanha", que a chuva se encerre,
que a lama resseque, pr'eu poder andar


quinta-feira, dezembro 10, 2009

As regras do futebol de rua

O texto não é meu, mas achei interessante.

As Regras do Futebol de Rua


Jogar futebol no meio da rua fez parte da minha infância. Eram momentos ótimos. Uma diversão que ainda perdura ano após ano. Visitando sites pela internet encontrei essa lista com as regras do futebol de rua. Confira:



1. A BOLA

A bola pode ser qualquer coisa mais ou menos esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do irmão menor.

2. O GOL

O gol pode ser feito com o que estiver à mão: tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola, merendeira do irmão menor e até o próprio irmão menor.

3. O CAMPO

O campo pode ser só até o meio-fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e, nos clássicos, o quarteirão inteiro.

4. A DURAÇÃO DO JOGO

O jogo normalmente vira 5 e termina 10. Pode durar até a mãe do dono da bola chamar ou até escurecer, em ruas sem iluminação. Nos jogos noturnos, até algum vizinho ameaçar chamar a polícia.

5. A FORMAÇÃO DOS TIMES

Varia de 3 a 70 jogadores de cada lado. Ruim vai para o gol. Perneta joga na ponta, esquerda ou a direita, dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.

6. O JUIZ

Não tem juiz.

7. AS INTERRUPÇÕES

No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada em 3 eventualidades:

a) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso, os jogadores devem esperar 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação.

b) Quando passar na rua qualquer garota gostosa.

c) Quando passarem veículos pesados. De ônibus para cima. Bicicleta ou fusquinha pode ser chutado junto com a bola e, se entrar, é Goool.

8. AS SUBSTITUIÇÕES

São permitidas substituições no caso de um jogador ser levado para casa pela orelha para fazer dever de casa ou em caso de atropelamento.

9. AS PENALIDADES

A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar o adversário dentro do bueiro.

10. A JUSTIÇA ESPORTIVA

Os casos de litígio serão resolvidos na porrada, prevalecendo os mais fortes e quem pegar uma pedra antes.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Para você

Eu apenas quero saber
Qual a razão de querer viver
Eu não sou perfeito
E com todos os meus defeitos
Eu ainda quero estar aqui

E ainda quero viver pra sentir
Viver para correr
Para tentar e até para perder

O verdadeiro motivo
A razão pela qual estou aqui
O motivo para sempre querer recomeçar
E sempre querer continuar

E o motivo é você
O motivo é sempre você

sexta-feira, novembro 20, 2009

Porque eu não queria ser uma estátua

De forma alguma
eu seria uma estátua
As pessoas que passam
Te olham de longe

Na primeira vez
Ainda comentam
Depois com o tempo
só passam de longe

E você fica ali
Parado e tentando
ser visto por todos
de dia e de noite
Mas só o que ganha
São marcas do tempo
E um monte enorme
de bosta das aves

E a menos que um dia
uma alma bondosa
te jogue uma água
e refresque seu corpo
você ficará
parado e sozinho
sendo castigado
com um monte de bosta.

sábado, julho 04, 2009

Pra quê?

Episódio IV porque começa do IV

E veio o sangue, e do sangue, veio a vida, e da vida, a falta da vida.
Você não pode partir sem os seus mas pode partir e deixar o vazio de sua existencia.
Existencia medíocre, de bosta, que não vale nada, a menos que algum pobre coitado dependa de você, aí sim, de ego satisfeito, você tem mais algum tempo de hipocrisia pra viver.
Falsos amigos, estes são os verdadeiros, porque são honestos na falsidade, já os verdadeiros amigos, (ou seriam ingênuos carentes?), estes não passam de abridores de lata, que os cretinos dominantes cativam somente para poder usar quando a necessidade de abrir a latinha vier.
Sou fã de quem não é fã, mas quem não é fã nem gosta do conceito de fã e portanto abominam minha idéia, o que me deixa sozinho pra ser eu, fã de mim mesmo. Se o povo venera um deus, e esse deus venera seu povo, e se esse deus faz parte do povo, então esse povo venera a si próprio, assim como cada povo venera a si mesmo, criando um deus tão pobrinho que é até à sua imagem e semelhança. Não tem um forma linda, divina, com poderes soberanos e uma sabedoria maior que tudo.
Jecas.
Quem é o ser superior do ser superior? É uma sequência interminável e tediosa de seres superiores ao ser superior. Não há fim, e, se não tem fim, não tem resposta. Talve por isso a maldição de todas as explicações é que "você tem que ter fé". Claro que tenho que ter fé, porque não há reposta que satisfaça. E ficamos aqui nessa existência ridícula, cultivando a fé no que nem temos idéia, e esperando que antes da gente morrer algo de bom e divino nos aconteça.
Somos num sentido patético, bactérias da natureza. A natureza dominou o mundo e ela não gosta das vaquinhas e alces e bois e girafas e esses bichos maléficos que a destroem diariamente. Por isso ela permite que a gente, homenzinhos insignificantes, que a gente permaneça aqui fazendo predinhos e represas e nos sentindo os donos de tudo, mas desde que a gente coma as malditas vaquinhas e esquilos e galinhas que destroem a natureza.Somos para a terra como as rêmoras são para os tubarões, vivemos às custas dela, e achamos que somos espertos.
Bactérias da natureza. E com adoração de deuses e guerras. Que ridículo somos.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

064 - 13/02/2009 - Real

Acordou cansado e sonolento. "O quê? O que é isso?"
"Que... Que cheiro é esse?"
"Isso... parece mofo, cheiro de mofo... meu braço... eu não... o que é que está acontecendo? Por quê eu não enxergo nada?"
Quando se deu conta, estava confinado em um local escuro, pequeno e sem luz. Quase não havia ar suficiente e o pouco ar que ainda restava vinha com um forte cheiro de umidade. E flores. Cheiro de flores.
Abriu os olhos em vão. Tudo estava tão negro como antes.
Tentou mover-se mas não conseguiu.
E tão logo apercebeu-se do que acontecia veio o desespero. O coração disparado provocava o aumento da respiração e o ar ficou denso e pesado. As mãos suavam. Tentou mover-se novamente. Gritou.
Gritou novamente.
Gritou até que sentiu-se tonto e pensou que poderia gritar ali pra sempre, que ninguém iria ouvir.
Tentou pensar em algo mas o ar estava ficando insuportável e a cabeça girava. As pernas já sinalizavam o início de contrações involuntárias. E dolorosas. Queria lembrar-se de como havia chegado ali, mas era quase impossível, com o corpo inteiro reclamando suas necessidades. O peito doía e agora, a cabeça também. Forçou os braços para cima em uma tentativa inútil de mover alguma coisa, de acontecer qualquer coisa, de fugir, de escapar daquele inferno negro. Tudo em vão.
A respiração acelerada só piorava tudo e tentou acalmar-se. Lembrou-se de estar sentado no sofá da sala, de estar vendo tv e de ter dormido. Depois disso não recordava mais nada. Pensou em como tinha chegado ali, se havia morrido, se havia estado cataléptico, se havia sofrido um ataque, mas a cabeça já estava confusa demais e os pensamentos foram perdendo a lucidez.
E então veio a calma.
Uma sensação de paz, de tranquilidade, e dormência.
Um entorpecimento que o deixava leve, enquanto iniciava-se a inação de seus órgãos.
"Então é assim que se morre" pensou.
E deixou-se levar pela deliciosa sensação de morrer, o fim da vida animal.
Sem perdição, sem pesar.
Sem almas perdidas pelo pecado.
Simples assim.
E num último segundo, deu-se conta que morrer era isso, tão parte da vida quanto nascer...

Dali saiu para outro lugar, não sei exatamente onde, mas via-se que o corpo era, agora, apenas um corpo.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

063 - 04/02/2009 - O encontro

Tomei sol semana passada. Sim, porque se tomar sol no mesmo dia você fica com uma aparência ruim na pele, ressecada, sem brilho. E assim não gosto. Então cuidei-me de tomar sol, moderadamente, dias antes. Estava morena. Nem muito clara, nem muito escura. Olhei no espelho e gostei do que vi. Saí do banho e coloquei uma blusa branca, para contrastar, e um sutiã, bem discreto, porque se você quer conquistar um homem, você deve se vestir, para que ele, depois, queira te despir. Então assim me fiz. Cheguei até a janela, olhei minha barriga e minha perna e vi alguns pêlos brilhando. Pêlos branquinhos, invisíveis quase. A pele lisa, morena e com alguns pêlos mínimos, reluzindo com o reflexo do sol. Pêlos naturais. Voltei. Coloquei uma calcinha nova, branca também, para combinar com a blusa, no momento certo.
Perfume e uma calça jeans.
O salto não muito alto para não intimidar e não muito baixo para não parecer que me escondo. Soltei os cabelos. Mais um pouco do perfume na nuca. Batom e nada mais.
Não ia querer parecer diferente. Então somente um batom.
Encontrei-me com ele na porta de casa, que ao me ver desceu do carro e abriu a porta. Senti-me um pouco idiota com gesto tão elegante e antiquado. Mas não me importei, não estava ali para criticar. Estava ali para gostar, sentir e ser feliz.
Ligou o carro e partimos.
Eu não sabia onde iríamos mas deixei-me levar, e gostei da sensação de não estar no comando.
Falamos muito.
Rimos muito.
A música estava perfeita e até o cheiro do carro era bom.
Paramos na porta do teatro e aquilo me pareceu muito apropriado: Teatro, um jantar, uma noite, carinhos, sexo, tudo perfeito. Assistimos a peça e ri muito. Humor leve e descontraído. Homens interessantes te fazem sorrir. E deveriam fazer isso sempre. Adorei o teatro.
Depois fomos comer algo. Nesta parte sempre há um desencontro. As preferências são muito variadas. Fiz de conta que o que ele pedia também era meu prato preferido. Nada de estragar a noite. Comi pouco, saímos de novo. Rimos outra vez.
Conversamos sobre ir para algum lugar. Motel não. Hotel. Motéis tem um ar de 'viemos aqui só para transar'. Hotel não tem essa ansiedade.
Colocamos uma música calma e tomamos um vinho. Sem as cafonices que cercam este ritual. Bebemos sentados na beira da cama, rindo e falando sobre tudo. E sobre nada.
Até que ele me beijou. Depois do beijo, levantei-me e fui ao banheiro. Voltei em poucos segundos. Blusa branca e calcinha branca. Pele morena, lisa e perfumada. Ele olhou, assim como todo homem, para todas as curvas que estavam visíveis. Então tirou toda a roupa de uma vez só.
Estávamos em pé, eu o abracei e dançamos assim por alguns minutos, rindo muito do burlesco que era dançar pelado na frente do espelho.
Tomamos mais vinho, nos deitamos e nos abraçamos. O resto não foi tão mágico como o sonho que passava pela minha cabeça antes do encontro, mas não posso reclamar de nada. Foi carinhoso, foi gostoso, em alguns momentos foi safado, em outros foi ridículo. Mas mesmo que não tivesse sido bom, a noite antes do sexo fez tudo valer a pena.
Acho que estou apaixonada...

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Acordei tarde.
Dormi bastante pra não ficar cansado à noite. Finalmente ela havia aceitado meu convite pra sair e eu não ia desperdiçar a chance.
Não joguei bola aquele sábado. Nada ia me deixar menos qualificado naquele dia. Saí somente pra mandar lavar o carro. Lavei por dentro também para não fazer feio.
No final da tarde tomei um banho, vesti uma calça de pano, porque acho que calça jeans pega mal pra sair pela primeira vez, passei perfume e caprichei no desodorante sem perfume, pra não passar vexame e para não misturar os odores e sair parecendo uma loja do boticário.
Fui em uma casa de bebidas e comprei uma garrafa de whisky. Então fiquei pensando em algo que combinasse com whisky para beliscar. Quando você compra um vinho você pensa em queijo e quando compra cachaça pensa em algo gorduroso, mas e o whisky?
Eu não sabia o que comprar para combinar. Então vi em uma prateleira.
E resolvi meu problema com uma bandejinha de isopor de quibes. Num primeiro momento, whisky pareceu combinar com quibe. Até hoje eu não sei porque pensei isso.
Paguei e fui embora.
Encontrei-me com ela um pouco depois do horário e confesso que me atrasei de propósito para parecer desinteressado.
O whisky estava no banco de trás junto com a bandejinha de quibe mas achei melhor deixar aquilo ali mesmo e nem toquei no assunto. Eu já havia comprado ingressos para o teatro com antecedência, e funcionou. Ela gostou do teatro. Eu não assisti direito. Fiquei alternando os olhares entre ela e a peça. Valeu a pena porque ela gostou, por mim, pulava o teatro.
Depois fomos a um restaurante e comemos alguma coisa. Tentei pedir um prato imaginando o que ela gostaria, e, por sorte, acertei. Conversamos um pouco e aí pensei que já era a hora de ter aquela conversa que eu esperava. Chamei-a para ir a um motel mas ela preferiu hotel. Nem questionei.
Fomos para o primeiro hotel que achei e entramos.
Pedi um vinho para relaxar e até que foi legal porque ficamos conversando ali mesmo na beirada da cama, sem muita cerimônia. Só que eu já não estava aguentando mais e arrisquei um beijo. Ela aceitou e depois levantou-se para ir ao banheiro.
Preste atenção agora. Meu amigo, quando ela voltou, eu pensei: 'e eu querendo dar uma bandejinha de quibe pra ela...', minha nossa mãe do céu, o que que era aquilo.
Meus instintos animais saíram de seus estados adormecidos e fluíram por todo o corpo enrijecendo até a língua. Eu já estava pronto e fui logo tirando a roupa.
Então ela me abraçou e fez a coisa mais surpreendente que eu poderia imaginar: Começou a dançar comigo. Quem meu Deus, nessa hora, quer dançar? Mas segui o que parecia ser o ritual de aquecimento.
Foi constrangedor, mas foi bom. Depois disso tomamos mais um pouco de vinho e nos deitamos. E aí sim, aí nesta hora a terra parou. Eu não consigo nem descrever a magia e o êxtase de tudo que aconteceu. Não dá pra explicar o tamanho do prazer que eu senti. Foi demais. Ela era linda, e gostosa, e cheirosa, e tudo, e todos. E isso também, e aquilo também.
E apesar de todo aquele preparativo e teatro e jantar e fazer graça e dançar e coisa e tal, o sexo foi simplesmente bom demais. E toda a noite valeu a pena.
Acho que estou apaixonado por ela...

terça-feira, janeiro 27, 2009

062 - 27/01/2009 - PAPO DE CRIANÇA - NOVA GERAÇÃO

- E aí, véio?
- Beleza, cara?
- Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.
- Quer conversar sobre isso?
- É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas estranhas, me botando um terror, sabe?
- Como assim?
- Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com um papo doido aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca ia vir me pegar. Mas eu nem sei quem é essa Cuca, pô. O que eu fiz pra essa mina querer me pegar? Você me conhece desde que eu nasci, já me viu mexer com alguém?
- Nunca.
- Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha mãe disse que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, porque meu pai tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, o que meu pai foi fazer na roça? E mais: como minha mãe foi passear se eu tava vendo ela ali na minha frente? Será que eu sou adotado, cara?
- Sabe a sua vizinha ali da casa amarela? Minha mãe diz que ela tem uma hortinha no fundo do quintal. Planta vários legumes. Será que sua mãe não quis dizer que seu pai deu um pulo por lá?
- Hummmm. pode ser. Mas o que será que ele foi fazer lá? VIXE! Será que meu pai tem um caso com a vizinha?
- Como assim, véio?
- Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear. Então ela não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai ver eles dois tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram passear. É isso, cara. Eu sou filho da vizinha. Só pode!
- Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões precipitadas.
- Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei sabendo de umas coisas estranhas sobre a minha mãe.
- Tipo o quê?
- Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um gato. Assim, do nada. Pura maldade, meu! Vê se isso é coisa que se faça com o bichano!
- Caramba! Mas por que ela fez isso?
- Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato não morreu.
- Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara.
- E sabe a Francisca ali da esquina?
- A Dona Chica? Sei sim.
- Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá, paradona, admirada vendo o gato berrar de dor.
- Putz grila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá pra entender.
- Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe, né? Ela me contou isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por ter feito essa selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que ela não gosta muito de mim. Esses dias ela ficou tentando me assustar, fazendo um monte de careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a falar que ia chamar um boi com cara preta pra me levar embora.
- Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia fazer isso com o filho.
- Mas é ruim saber que o casamento deles é essa zona, né? Que meu pai sai com a vizinha e tal. Apesar que eu acho que ele também leva uns chifres, sabe? Um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um cara, que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela chama ele de 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração dela. Ela até falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar ladrilho em tudo, só pra ele pode passar desfilando e tal.
- Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.
- É. só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes ela fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo veio me falar que a vizinha cria perereca em gaiola, cara. Vê se pode? Só tem louco nessa rua.
- Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?
- Putz, é mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito.