terça-feira, junho 22, 2010

Diferente

Hoje estou diferente. Me notei assim dum tanto que pensei, será que eu estou diferente mesmo? Então eu vim trabalhar e vi o símbolo da Fiat no volante do carro. E até o símbolo da Fiat era diferente. Que percepção será essa agora? Me dei conta de que estava eu muito perto do meu olho, e já explico: Eu normalmente tenho a sensação de que eu não sou o corpo inteiro mas sim a parte que fica dentro da cabeça. E esse eu fica mais pra dentro, mais perto do cérebo, não fica olhando com o olho, fica olhando de dentro da cabeça através do olho. Como se eu fosse uma espécie de nave, ou capacete, ou qualquer coisa e os olhos fossem o vidro pelo qual se vê lá fora. E hoje eu estava perto do olho. Bem na frente mesmo, dava a impressão de que eu via mais de mim, como quem se aproxima da janela e vê mais o exterior. Estou saindo de dentro de mim? Olhei minhas mãos, mãos grandes, e elas pareciam de outra pessoa. Você já se estranhou? Meu corpo, obviamente meu, parecia errado. E a sensação era do tipo "O que estou fazendo aqui? Tirem-me daqui!". Estranho. Como não me noto muito bem, posso estar passando por uma transformação silenciosa, mas não sei qual é. Lembrei-me do livro A Metamorfose e foi engraçado pensar "Será que vou virar uma barata gigante?". Acho que estou grávido de mim, gerando aqui na minha cabeça um novo eu, filho de mim, que vai aproveitar a carcaça do velho eu pra poder viver sem ter que morrer e nascer de novo. Se for isso, ótimo, poderei aproveitar nessa vida ainda, esse novo estranho, cruzamento de experiência e sofrimento, de prepotência e burrice, de controle e descontrole. Se não for, tanto melhor, não quero entrar na fase da sabedoria agora, ainda tenho novos, incríveis e apoteóticos erros para cometer. Então vou seguindo meus dias como se já os soubesse, e esperando que a sensação diferente termine por mostrar a que veio e o que devo fazer, porque ela é como esse texto, que fala e fala e não diz nada. Me sinto diferente, mas não sei de nada.

domingo, junho 13, 2010

Há alguns dias atrás passei por um desses momentos bipolares que são quase rotina em minha vida. Como toda e qualquer pessoa abençoada pelo transtorno bipolar de humor, tenho meus momentos de criatividade e outros não tão bons assim. Então, dias atrás passei por um momento desses não tão legais. E senti que precisava de carinho e atenção e compreensão.
Depois tudo passou. Como bem disse a Kilauea em seu Twitter "Não queira morrer hoje porque amanhã você vai querer dominar o mundo" (Alguém com Transtorno bipolar).
Daí que outra pessoa que gosto muito e também é meio assim bipolarizada, passou por um momento ruim, e precisou de carinho, atenção e tudo mais que a gente precisa. E eu não fui legal. E ouvi que não sei ser amável nessas horas.
Lembrei-me que na minha vez ela tinha sido exatamente o que eu esperava, e quando ela precisou eu fui exatamente o oposto.
Então o que fazer?
A natureza da pessoa não muda. Contrariando a Ludmila, ninguém muda. Pessoas evoluem e se controlam e amadurecem, mas basta um momento de grande emoção, boa ou ruim, e a essência legítima surge de volta.
Desta forma, minha natureza não permite que eu seja amável. Porque não foi isso que aprendi. Sou da geração que aprendeu que "homem não chora", e que terapia é "coisa de doido". Aprendi também que demonstrar alguma fragilidade era ser "um fraco". Em casa, meu pai me ensinou que a sua palavra era a última e definitiva (não estou aqui dizendo se era certo ou errado, se era a melhor intenção ou não, apenas os fatos). Cresci com tudo isso e agora aprendi a controlar-me, a forçar-me para ouvir o outro, a tentar colocar-me na situação do outro.
Tudo isso é muito lindo e faz sentido, mas quando a situação pede emoção, pede verdade, pede sentimento legítimo, então a natureza fala mais alto, e todo o auto-controle escorrega ladeira abaixo e resta somente você, você mesmo. E aí?
Eu quero controlar a situação e dizer algumas palavras e acabar com tudo.
Mas como fazer isso? Como controlar tudo à minha volta?
Como transformar o frio em calor?
Talvez por isso as pessoas tenham a necessidade de acreditar na reencarnação... para saber que ainda dá pra fazer diferente, da próxima vez...
Kilauea, às vezes eu falo coisas ruins, e às vezes falo coisas boas. Eu aprendi a conviver com um vulcão em erupção, que é lindo mas que também arde e queima, então eu peço, de coração, que aprenda a conviver com esta característica que é a minha marca mais constante: A inconstância.

segunda-feira, junho 07, 2010

Você está com raiva? Se não está nem perde seu tempo. Esse texto é com raiva. E em verdade vos digo que sempre que dirijo 1000 quilômetros eu fico muito cansado. E aí surgem os demônios. Não esses demoniozinhos com pé de bode, chifres e tridentes. Não esses vermelhos com caras terríveis. Esses bobinhos não. Tô falando dos demônios de verdade. Aqueles que existem, são criados mantidos e alimentados pelo nosso cérebro. Esses sim, aparecem quando estou cansado. E nada melhor que destruir algo para saciar a fome desses animais. Então agora, nesse exato momento, estou ouvindo Edith Piaf, música "Le Foule", que diga-se de passagem, parece ter sido gravada com um balde de alumínio na cabeça enquanto gargarejava com Listerine, por isso a voz de lata e o "R" fazendo bolhas. Mas estou ouvindo assim mesmo, e gostando, porque quero destruir alguma coisa.
Há toda uma beleza em destruir. Tornar feio o belo é bonito e dá gosto. E só é macabro para quem não entende ainda. Você aprende a gostar, e então, está livre. E o belo é o seu belo e não mais aquele belo tonto, ensaiado e sem graça.
A ha ha ha ha...... às vezes me dá uma dó de quem tem cachorro, porque os cachorros, sempre, sempre, sempre, são mais interessantes que seus donos.

quarta-feira, junho 02, 2010

O rapazinho

O rapazinho estava sentado no vaso, fazendo o número 2.
Paz, calma e serenidade
Tempo de pensar e refletir
Tempo de esperar
Esperar
Esperar
Esperar
Pronto
Serviço terminado
O rapazinho levanta e, como um forno de fogão novo, começa o processo auto-limpante
Mas eis que o inimaginável aconteceu, o rapazinho perdeu o equilíbrio e para não cair no chão, segurou-se com as duas mãos, uma em cada lado da parede.
Controle retomado, o rapazinho recompõe-se
E então percebe que na sua mão direita, aquela mesma que ele usou para apoiar-se na parede, estava o papel
É, o papel higiênico
O rapazinho olha para a parede e vê sua obra em estilo barroco espalhada como uma trilha vertical com destino ao céu...
Uma freada brusca na parede
O rapazinho morre de nojo
E joga o papel no lixo
Veste-se rápido e sai do banheiro
Mas deixa a lembrança na parede
O enfeite que lembra a todos que nada se cria nada se perde, tudo se transforma
Que bosta...