quarta-feira, outubro 17, 2007

060 - 17/10/2007 - Primeira ida a Viena

Acordamos às 5 horas da manhã para ir a Viena. E considerando que estamos quase no inverno e o sol demora mais para nascer, acordamos praticamente no meio da noite. Frio, 8 graus, e muito frio. Muito muito frio.
Levantei junto com a Cláudia, depois o Diego e por fim Gabriel e Davi.
Por uma dessas coisas inexplicáveis do destino, conseguimos chegar no horário certo na estação, o que é muito interessante, já que nunca chegamos na hora quando o assunto é o nosso próprio lazer.
Entramos no trem, ele não apitou, e então partiu.
Viagem tranquila, o único barulho era o nosso, todos rindo e brincando.
Bom mesmo, de verdade.
Fotos, coca-cola congelada, polícia da fronteira.
Pronto, chegamos em Viena, Áustria.
Fotos, casacos fechados, começamos a caminhar. Para onde estávamos ainda não sabíamos. Tínhamos combinado um encontro com o Rodrigo e a Gislene, um casal de brasileiros que está no nosso hotel, mais o filho deles, o Miguel.
Então andamos em linha reta, seguindo o fluxo que parecia ir em direção à saída da estação.
Lá fora avistamos a primeira igreja pela ponta da torre mais alta.
É pra lá mesmo, e viramos para a esquerda tentando alcançar a faixa de pedestres.
"Mau sinal, a calçada está em obras e não tem como atravessar. Vamos seguir mais um pouco."
A rua virou mais para a esquerda e começamos a nos afastar cada vez mais da igreja. A gente só queria seguir reto mas aquilo parecia cada vez mais difícil. A Claudia pegou o celular e ligou para a Gislene que estava fora de Viena. Conversou, ficou sabendo que ela ainda não estava na cidade, e desligou.
'Eu te ligo de novo' seriam as últimas palavras que a Cláudia diria a ela naquele dia.
Voltamos para a estação para tentar atravessar a rua.
Eis que surge o sol.
Não o sol normal, mas aquele soléuzaláço, aquele fogaréu colossal que obrigou a gente a voltar na estação mais uma vez para guardar os casacos no maleiro.
"Me dá uma moeda de 2 euros para trancar o maleiro?". "Ixi, não tem, tem que trocar a nota.".
"Ok!"
Comprei um pacote de batatas chips e um gatorade por algo equivalente a 20 reais e consegui o troco.
Pronto. Casaco trancado e seguimos para a saída.
Para ir à igreja, ainda estávamos tentando ir para a igreja, era só atravessar a rua no sinal logo em frente à porta da estação. Nada de andar para à esquerda, só atravessar a rua em frente.
Chegamos até ela e finalmente conhecemos o local.
Fotos e saímos. Rápido.
E agora? "Liga para a Gislene."
Novamente, por uma outra dessas coisas inexplicáveis do destino, o telefone parou de ligar. Ou melhor, parou de ligar pra ela. Ligava para qualquer pessoa, menos para a Gislene.
Ligava para a Lituânia, mas nao pra ela. "vamos passear a pé mesmo.".
Mas faltava o mapa...
"Liga para o Demis que ele sabe o caminho todo."
OK. E o Demis explicou o caminho todo.
"Obrigado Demis."
Havíamos combinado um passeio junto com o Rodrigo, que estava de carro, então não me preocupei com mapas e endereços dos pontos turísticos. Pensei que seria tudo simples. De carro tudo é simples. Em relação a estar a pé e sem mapa, de carro tudo é simples.
"Vamos a pé mesmo, já sei mais ou menos onde é e eu li que é quase tudo na mesma rua e região."
Começa o passeio mas em cinco minutos paramos na pizzaria para repor energias.
"15 reais cada fatia de pizza..."
"Estou acostumado com os preços da Hungria."
"Credo."
"Por favor, uma pizza pequena, sem coca, e cinco pratos."
Em seguida descemos uma rua, seguindo as instruções do Demis, mas nada de chegar.
Andamos mais e nada. Mais ainda e nada. Bem mais ainda e mais nada ainda.
"Vamos comprar um mapa agora! Aqui! Nessa banca!"
Compramos o mapa.
Aproveitei para perguntar: "Onde é a rua Burg Ring?"
"Próxima quadra..."
Por quê é que tem que ser sempre assim?
Mais dois minutos andando e o Davi dorme ao mesmo tempo em que a bota da Cláudia começa a machucar seu calcanhar.
Sentamos em um banquinho na calçada.
Cláudia: "Compra um carrinho."
"Quê?"
"Um carrinho, de bebê, pra gente por o Davi. E um sapato pra mim, pra andar o dia inteiro com essas botas não dá."
"Ok."
Saímos eu e o Gabriel pra ir comprar carrinho, mas não sem antes ter parado um guarda de trânsito para fazer a pergunta mais inesperada que um guarda de trânsito espera que alguém lhe faça, se é que algum guarda de trânsito fica esperando que alguém lhe faça perguntas: "Oi, por favor, onde eu compro carrinho de bebê?" .
Entramos em um shopping de 7 andares com muitas placas indicativas, todas em alemão.
Começamos pelo primeiro andar e fomos subindo. No quarto andar o Gabriel achou a seção de carrinhos e pronto, tudo resolvido.
Voltamos com o carrinho.
Cláudia: "E o sapato?"
"Merd* de drog* de bost* de sapato... Eu esqueci a merd* do sapato.. Grunff!"
"Gabriel, bora comprar o sapato?"
Fomos de novo. Na segunda loja compramos e voltamos. Um número maior que o tamanho dela. Na Europa não existe sapato para adulto do tamanho que ela quer.
Agora sim, exatamente 4 horas depois de termos chegado já estávamos prontos para começar realmente, verdadeiramente, o passeio.
E então, mais uma vez, por mais uma outra dessas outras coisas do tipo coisas inexplicáveis do outro destino, o passeio foi sensacional!
Castelos, museus, fotos, praças, estátuas, fotos, pessoas, lojas chiquetérrérrimas (uma das quais tirei fotinhola com meu óculos comprado na dita cuja), fotos, uma basílica de deixar qualquer um em estado de graça, fotos, carruagens pela rua, valsa na praça, fotos, gente rindo, fotos, pés doendo, gente feliz. Fotos.
Nós alternávamos o carrinho para que o Gabriel e o Davi pudessem descansar pois o passeio era longo. Mas às 5 horas da tarde as pernas do empurrador do carrinho, no caso, eu, pediram trégua. E assim paramos na praça Sigmund Freud para um descanso.
Olhei o mapa para ver como fazia para voltar de metrô até a estação do trem e depois de alguns baldeios chegamos.
Entramos no trem e nao havia nenhuma cabine vazia. Então o Diego entrou em uma qualquer onde já havia uma mulher.
Nos instalamos e bem na hora do trem partir entra o alemão.
Mal-humorado, ranzinza, pulguento e, bom, deixa pra lá.
O tal alemão tirou a mulher da poltrona alegando que aquela era reservada para ele.
A troca de lugares provocou um rearranjo de senta aqui e senta ali de tal forma que no final das contas o Davi ficou no colo do Diego e o carrinho de bebê no meu colo.
E assim o trem partiu. E o inesperado aconteceu.
A fúria titânica que me possuía era demais e crescia a cada vez que olhava o alemão. Meus pensamentos enegreciam.
Com o sangue pressionando as paredes das artérias sentei-me para dar início àquilo que eu chamei de vingança
pessoal contra o nazista mal-humorado, ranzinza, pulguento e bom, deixa pra lá.
Falei durante 3 horas. Ininterruptamente. Nem eu mesmo acreditei. Nem eu aguentei. Não sou de falar tanto. Cantei também. Fui tão irritantemente insuportável que o alemão levantou-se e saiu da cabine. Preferiu ficar em pé no corredor, para meu regalo. Ou deleite. Ou ambos, não importa. Eu estava muito cansado. Mas valeu a pena.
De alma lavada e com final feliz, chegamos.
Cansados e felizes. Com fotos e felizes. Com fotos e com fome. E com muitas fotos. Quatrocentas e sessenta fotos em um único dia. Muitas fotos, já falei isso?